Durante quatro dias
no começo deste mês representantes dos Estados-membros das Nações Unidas
se reuniram em Nova York, nos Estados Unidos, para discutir propostas
para a implantação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelo documento O futuro que queremos, elaborado durante a Rio+20.
No painel sobre consumo e produção sustentáveis o brasileiro Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu e conselheiro do Planeta Sustentável foi convidado a participar dos debates sobre o assunto. Além dele, fizeram parte das discussões William McDonough, fundador do McDonough + Partners e Karti Sandilya, conselheiro do Institute Blacksmith.
“Dentre aquilo que vem sendo debatido sobre os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável talvez este seja um dos temas,
principalmente pelo lado do consumo, que vem tendo menor ênfase”, avalia
Mattar.
A reunião de
especialistas nas Nações Unidas teve como objetivo justamente dar
tratamento dentro dos ODS à questão do consumo. Helio Mattar apresentou
dois documentos que refletem a questão da sustentabilidade neste setor
tanto no Brasil como no mundo: o relatório Estado do Mundo 2013 – A Sustentabilidade ainda é Possível? e a Pesquisa Akatu 2012 – Rumo à Sociedade do Bem-Estar.
Segundo o diretor do
Instituto Akatu, há uma enorme concentração de consumo nas mãos de menos
de 20% da população mundial, que consome cerca de 80% de todos os
produtos e serviços do planeta. E a cada ano entram no mercado de consumo de massa
mais 150 milhões de pessoas, o que representará nos próximos 20 anos
aproximadamente três bilhões de novos consumidores. “Já com a situação
que temos atualmente, a Terra não tem sido capaz de regenerar os recursos naturais
e os resíduos provenientes do consumo e da produção. O que acontecerá
então quando entrarem mais três bilhões de pessoas no mercado
consumidor?”, questiona.
Para Helio Mattar, é
inevitável que haja uma mudança do modelo de consumo e para isso será
necessário mudar também o estilo de vida das pessoas. “Minha proposta é
que devemos sair de uma sociedade do consumo para uma do bem-estar,
em que se buscam formas pelas quais os produtos e serviços possam
atender a uma demanda de bem-estar”, defende o diretor do Akatu. Para
tal, deverão ser utilizados indicadores que mensurem não o crescimento
da economia, mas o percentual da população que fique acima de um nível
mínimo de bem-estar, o uso de recursos naturais por unidade de bem-estar
e por último, o impacto ambiental.
Outra proposta
apresentada por Mattar durante o painel das Nações Unidas, mas que foi
considerada polêmica, é a de diminuir a carga horária de trabalho da
população mundial. “Precisamos rearticular a distribuição do tempo das
pessoas ao longo da vida de maneira a dar uma maior ênfase ao desenvolvimento pessoal e espiritual e colocar o trabalho como um elemento e não o elemento
de utilização de tempo durante a vida adulta”, diz o executivo. Esta
mudança também seria necessária para a sustentabilidade econômica, dado
que os fundos de pensão públicos e privados não vão suportar manter uma
população cada vez mais velha. Além disso, uma jornada de trabalho menor
possibilitaria o emprego de um maior número de profissionais,
principalmente jovens, diminuindo índices de desemprego que assolam
países como Espanha e Grécia.
Entre os
especialistas estrangeiros que estiveram presentes no encontro das
Nações Unidas há um consenso de que o impacto ambiental está muito além
do que a Terra é capaz de absorver e a necessidade da inclusão dos três
bilhões de pessoas das classes emergentes que entrarão no mercado nas
próximas duas décadas. “A grande divergência aparece quando falamos em
que tipo de consumo deveremos ter”, revela Helio Mattar. “E aí aparecem
dúvidas também sobre o quão difícil será mudar o comportamento do
consumidor e ainda, se a velocidade da mudança será suficiente para
reverter o atual impacto ambiental no planeta”.
Os principais pontos
acordados pelo grupo de trabalho do painel vão ser colocados em um
documento e propostos à Assembleia Geral da ONU sobre os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável que acontecerá em março.
fonte: planeta sustentável - abril

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